Museu de Favela reabre em nova sede com proposta inédita: ecossistema físico e digital abraça nove comunidades cariocas
- Bianca Gama Pena
- 25 de nov
- 8 min de leitura
Projeto pioneiro une exposição imersiva, museu virtual e game interativo para ampliar a visibilidade do patrimônio cultural das favelas

Rio de Janeiro, 05 dezembro de 2025 – O Museu de Favela (MUF), localizado no complexo Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Ipanema, reabre para o público, no dia 10 de dezembro, a sua nova sede e base de gestão do museu territorial. O marco dessa retomada é a inauguração de nova série da exposição “Um Despertar de Almas e de Sonhos”, resultado da iniciativa público-privada que amplia as possibilidades de atuação do museu, dentro de uma favela da Zona Sul carioca, acolhendo narrativas culturais e biográficas de outras importantes favelas do Rio de Janeiro.
A exposição de inauguração da nova sede do MUF comporta ambientes físicos e digitais, integrando acervos, experiências com realidade virtual, uma sala imersiva e um game interativo no Roblox.
A iniciativa do Governo do Estado do Rio, com projetos elaborados pela equipe do Programa Cidade Integrada e parceria da Light, transforma a visitação numa experiência museal vibrante, permitindo que visitantes se aproximem de narrativas de memória, arte e de culturas diversas de algumas favelas no Rio de Janeiro. A iniciativa discursa sobre talento, criatividade e resistência de parte importante da população da cidade do Rio de Janeiro, aquela que habita as favelas.
Estrutura e investimento
O projeto conta com investimento total de R$ 7 milhões do Governo do Estado do Rio de Janeiro, sendo R$ 4 milhões destinados às obras de infraestrutura e R$ 3 milhões para desenvolvimento dos projetos expositivos e digitais. O financiamento é viabilizado por meio de patrocínio do Instituto Light, via Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, com realização do Instituto Inspiração e Pro Bono Brasil. O Museu de Favela atuou em parceria com o programa Cidade Integrada, iniciativa do Governo do Estado voltado à integração de áreas de vulnerabilidade social por meio de ações conjuntas entre órgãos estaduais, federais e municipais. A ação tem ainda apoio da Secretaria de Estado de Turismo, que irá sensibilizar e divulgar o museu para o hub turístico do Rio de Janeiro.
“A Secretaria de Cultura e Economia Criativa, por intermédio da Superintendência de Museus e Sistema Estadual de Museus, acompanha o Museu de Favela desde 2009. As políticas públicas previstas no Plano Estadual de Museus são comprometidas com os museus comunitários, seu desenvolvimento e reconhecimento. Celebramos este momento de requalificação do espaço e exposições como um marco transformador e impulsionador”, comenta Lucienne Figueiredo, Superintendente de Museus.
A coordenadora geral do Programa Cidade Integrada, Ruth Jurberg, fala sobre a importância do novo equipamento público para a cidade e para o país. “Ele viabiliza acesso a todos, incluindo turistas nacionais e internacionais que poderão conhecer a história e a memória de favelas importantes no contexto da cidade, a partir de investimentos do Governo do Estado, através do programa Cidade Integrada, que atua em uma perspectiva de urbanismo social, integrando diferentes políticas públicas.”
A realização é do Instituto Inspiração e Pro Bono Brasil. O Instituto Inspiração é responsável pela concepção e desenvolvimento da parte tecnológica e virtual do projeto, incluindo a criação de nove museus digitais, em conjunto com historiadores, cientistas sociais e museólogos, e um game no Roblox, bem como a parte tecnológica da exposição no museu físico. Pro Bono Brasil atua como proponente do projeto junto aos órgãos públicos e patrocinadores, coordenando a implantação, operação e infraestrutura das exposições físicas. A museografia e curadoria do espaço físico são assinadas pelo MUF, organização cultural comunitária existente há 17 anos e reconhecida pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) desde 2008.
A produção, realizada ao longo de quase um ano, envolveu curadoria de acervos, aprovação de projetos e engajamento direto com as nove comunidades representadas: Jacarezinho, Alemão, Maré, Mangueira, Manguinhos, Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, Rocinha, Santa Marta e Morro da Providência. Foram conduzidas 15 entrevistas com moradores para a criação dos hologramas que amplificam as vozes de quem vive e transforma essas favelas, reforçando o protagonismo comunitário na narrativa da exposição.
Para a Light, apoiar o projeto é motivo de satisfação e reforça o compromisso da empresa. “A Light tem orgulho em apoiar a reabertura do Museu de Favela, um espaço que valoriza a memória, a cultura e a identidade do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. Acreditamos que investir em projetos como este é uma forma de iluminar não apenas as ruas, mas também as histórias e os talentos que fazem parte do nosso território. O museu é um símbolo de resistência, arte e pertencimento. Ao patrocinar essa retomada, a concessionária reforça seu compromisso com o desenvolvimento social e cultural das comunidades, promovendo a inclusão e o diálogo entre diferentes realidades”, destaca Giovanna Curty, superintendente de Comunicação e Sustentabilidade da Light.
A iniciativa em três abordagens
1. Museu físico: exposição "Um Despertar de Almas e de Sonhos"
A primeira frente é a inauguração da nova sede do Museu de Favela (MUF), totalmente revitalizada no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. O espaço inclui área expositiva, área externa destinada para crianças e um café, totalizando cerca de 1.700 m² de novos ambientes (sala para experiências imersivas, laboratório criativo, auditório, reserva técnica e loja com produtos das redes criativas locais). O espaço recebe a exposição de longa duração “Um Despertar de Almas e de Sonhos”, temática proposta pelo MUF, com 20 seções expositivas de fragmentos de memórias das nove favelas cariocas, sendo cinco delas com experiências tecnológicas interativas.
A mostra se estrutura em três grandes eixos — Território, Gente e Arte —, que revelam as diversas dimensões da vida na favela, suas expressões culturais e a força de suas histórias. No eixo Território, o visitante é convidado a percorrer a arqueologia das primeiras habitações do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. Foi criada uma casa de taipa, em real grandeza, de modo que o público possa adentrar a exposição, evocando a realidade das primeiras moradias da região.
Em seguida, o visitante é conduzido às primeiras intervenções tecnológicas interativas da exposição. No museu digital, encontra-se uma galeria informativa sobre as nove comunidades, em que é possível escolher em qual território vivenciar uma experiência a partir de realidade virtual, conhecendo cenários, histórias e personagens. Logo a seguir, mais uma animação tecnológica: visitantes poderão jogar o game do museu, feito no Roblox, escolhendo qual favela representar.
O eixo Território também é composto por obras como o Poço do Caminho Novo, da artista Evania de Paula, e as esculturas cinéticas Resiliência, do artista Acme, além de um espaço de homenagem e de reafirmação dos laços, história e raízes que conectam as comunidades. Ao final do primeiro eixo, o visitante poderá percorrer, em realidade virtual, trajetos até mirantes do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, Morro da Providência e Rocinha, em cima de uma moto, além de tirar uma foto para recordação.
O eixo Gente homenageia lideranças locais com instalações como Velhos Ilustres, composta por cinco totens retro iluminados que apresentam fotos e a história de dez moradores que marcam a memória social do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. O visitante também poderá ver o MUFALA, primeira peça do acervo do MUF, que é um megafone de papel criado como uma ferramenta para auxiliar a comunicação comunitária e simboliza a origem do próprio museu.
Nessa parte, o visitante também poderá ouvir músicas e depoimentos que expressam as vozes das favelas, além de conhecer um holograma com histórias de moradores. Outras seções do eixo celebram as Mulheres Guerreiras, às Memórias do Samba e prestam uma homenagem àqueles que afirmam identidade coletiva, potência empreendedora criativa e resiliência cidadã em suas comunidades.
Por fim, o eixo Arte expõe obras de quatro artistas moradores do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo e experiências digitais, como o Grafite Interativo, no qual o público poderá criar desenhos inspirados em estilos de grafite, que ganham movimento por meio de inteligência artificial, compartilhando suas criações nas redes sociais.
Além da exposição de longa duração, o MUF abriga a exposição de curta duração “Água e Vida: do poço à torneira”, desenvolvida em parceria com a Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae), no âmbito das comemorações dos 50 anos da companhia, que convida à reflexão sobre a importância da água como elemento essencial para a dignidade ambiental da vida no território.
Para Daniel Gil, presidente de Pro Bono Brasil, um projeto dessa dimensão só ganha forma graças à soma de forças envolvidas: “Um projeto dessa magnitude nasce quando muita gente sonha e caminha junto. A construção do MUF e das exposições é fruto de um trabalho profundamente colaborativo, que reúne saberes técnicos, comunitários e institucionais em torno de um mesmo propósito.” Para ele, esta inauguração marca o início de um novo momento, em que o Museu de Favela se afirma como referência em museologia social, inovação e participação comunitária no Rio de Janeiro.
Todos os conteúdos utilizados nas exposições são acessíveis com libras, audiodescrição e tradução para o inglês. As visitas ocorrerão de terça a sábado, das 10h às 18h, com ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada).
2. eMuseu das Favelas: plataforma digital
A segunda frente é o eMuseu das Favelas, plataforma digital gratuita que reúne um game e nove galerias virtuais divididas em quatro temas — História, Território, Gente e Arte & Cultura. A plataforma, que também poderá ser acessada na exposição física, permite que visitantes de todo o mundo explorem as comunidades de forma remota, descortinando o patrimônio cultural em favelas do Rio de Janeiro. Atividades como visita a mirantes e criação de grafite interativo também estarão disponíveis para todos os visitantes de qualquer lugar do mundo.
De acordo com Bianca Gama, responsável pela proposta do eMuseu das Favelas, através do Instituto Inspiração, o principal desafio foi criar um modelo de museu acessível e participativo, com protagonismo do visitante. “Usamos a tecnologia como ferramenta de democratização cultural, levando as atividades do museu físico para a palma da mão do público onde quer que ele esteja. É o primeiro hub de museus virtuais de favelas do país e com a construção da narrativa por meio de experiência gamificada”, explica.
Cada galeria apresenta acervo fotográfico, documentos históricos, depoimentos em vídeo e contextualizações sobre a formação, a cultura e o cotidiano de cada comunidade. A navegação é intuitiva e permite que o usuário escolha qual favela deseja conhecer primeiro, percorrendo virtualmente seus espaços e conhecendo suas particularidades. A curadoria foi construída em colaboração direta com os moradores, garantindo autenticidade e protagonismo comunitário na narrativa. O acesso é gratuito e pode ser feito pelo site: https://www.emuseudasfavelas.com.br/
3. Game no Roblox: engajamento com impacto real
A terceira frente é o game inédito “Desafio eMuseu das Favelas”, hospedado na Roblox, plataforma global de jogos online e criação de experiências virtuais em 3D, que estará disponível a partir de janeiro de 2026 para o público geral. O acesso será gratuito e poderá ser feito diretamente pelo aplicativo (https://www.roblox.com/games/91727041255689/eMuseu-das-Favelas) ou pelo site oficial do projeto (www.emuseudasfavelas.com.br).
Indicado para maiores de 5 anos, o jogo será compatível com computadores (PC), dispositivos móveis (celulares e tablets) e com realidade virtual (VR), garantindo uma experiência acessível e imersiva para diferentes perfis de jogadores. “É o primeiro jogo a conectar nove comunidades em uma única experiência digital, permitindo que jogadores de todo o Brasil representem e apoiem suas comunidades favoritas”, afirma Bianca Gama.
No jogo, os participantes poderão percorrer ruas estilizadas das comunidades, pontuam ao passarem por desafios que os conectam com o sentimento de cuidado, sustentabilidade e cidadania, como recolher lixo, trocar a lâmpada do poste, respondem quizzes sobre história e cultura local e, assim, acumulam pontos.
Semanalmente, os três jogadores com a maior pontuação receberão prêmios em Robux, a moeda virtual do Roblox. A pontuação individual também contribui para o ranking coletivo de cada comunidade, incentivando o engajamento e a colaboração entre os participantes.
SERVIÇO
Ação: Inauguração da nova sede do Museu de Favela no Pavão-Pavãozinho-Cantagalo
Data: 10 de dezembro de 2025Exposições: "Um Despertar de Almas e de Sonhos" e “Água e Vida: do poço à torneira”Dias de funcionamento: Terça a sábado
Horário: das 10h às 18h
Local: Museu de Favela (MUF): Rua Alberto de Campos 12, 4º andar – Ipanema – Rio de JaneiroInvestimento: R$ 7 milhões (R$ 4 milhões em obras + R$ 3 milhões em projetos)Acesso ao site do MUF: https://museudefavela.org/
Acesso virtual: https://www.emuseudasfavelas.com.br/ Game: Disponível na plataforma Roblox a partir de janeiro para o público geral - https://www.roblox.com/games/91727041255689/eMuseu-das-Favelas
Galeria de Obras e Fotografia: www.probonobrasil.com/museudefavela
Patrocínio: Governo do Estado do Rio de Janeiro através da Lei de Incentivo à Cultura e Light
Apoio: Instituto LightRealização: Instituto Inspiração e Pro BonoMuseografia, Acervo e Curadoria: Museu de Favela (MUF)
Apoio Institucional: Cidade Integrada

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